quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Namorado e a Aranha.

Vou postar um poeminha aqui. Não lembro de ter postado algum poema aqui, aliás, não lembro quando foi a última vez que postei aqui.
Sei que posso muito bem olhar a data da minha última postagem, mas a preguiça me impede, e quero me censurar por estar sendo relapso.



Um namorado, à passeio em seu cavalo

Não notou que em sua cela
habitava uma pequena aranha
embaixo da tira da fivela

Enquanto ia estrada afora,
divagava sobre o amor, como fazia outrora,
antes de conhecer a garota
por quem se apaixonara.
Enquanto isso, a aranha
tranquila em seu ninho, fiava

"-Mas o que será que acontece?"
"Ela me ama ou não? O que será que trama?"
"Vamos cavalo, apeia!"
E a aranha, em seu ninho, ouvindo a prece
pensou consigo, em sua cama:
"-Teia"

"-E agora, o que será que ela faz?"
"São quase nove, o que ela faz antes da ceia?"
"Será que pensa em mim?"
E a aranha pensou consigo: "-Teia"

"-Ah diabos! que duvida que não me deixa!"
"Será que me ama, ou já ficou cheia?"
"O que será que ela quer?"
E a aranha pensou, novamente: "-Teia"

Nisso ele notou
a pequena aranha, já na borda de sua cela
fez uma pergunta, brincando com ela:
"Se sabes o que é o amor, diz-me, matreira!"
E ouviu da aranha, jurou
que uma voz fina lhe disse: "-Teia"



O Namorado e a Aranha - Paulo Oliveira

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Uma festa sem cuba-libre.

Hoje eu acordei e vi que fazia algum tempo que eu não postava, e quando peguei o ônibus e vim pra cá, vi uma moça muito bonita no ônibus. Muito bonita mesmo (nem preciso dizer que era ruiva, não?).
E me lembrei desse texto que escrevi há uns 4 ou 5 anos atrás.
Não era pra moça do ônibus, claro que não, era pra outra pessoa, que na época, eu enxergava com uma beleza ainda maior que a da primeira.



A festa estava animada, apesar de eu nem saber o motivo da comemoração. O melhor de tudo é que ela estava lá. É, ela, a garota por quem eu me apaixonei assim que a conheci, coisa de seis meses, um ano atrás. Ficamos amigos, eu gosto dela mais do que como um amigo, mas me faltou coragem pra me declarar.

Vários amigos meus estavam lá, possivelmente todos, e o que era ainda melhor (pelo menos pra mim) é que iam tocar valsa, a única música que eu sei dançar. É meio careta, mas é gostoso de se dançar com quem se gosta. Enquanto eu pensava nisso, ela se aproximou e me perguntou:

-Quando tocar a valsa, você dança comigo?-aquele pedido foi o mais doce som que eu já havia escutado, e devo ter ficado meio atordoado, porque ela me chamou pelo menos umas três vezes até eu conseguir gaguejar a resposta:

-Cla... Claro que sim!

-Tá bom então.

-Tá bom...

Eu continuei andando pela festa, encontrando e conversando com amigos, até que eu encontrei dois amigos e uma amiga que eu já não via há algum tempo, sentados em uma mesa, conversando com ela. Resolvi me juntar ao grupo, já que o papo parecia animado. Não me lembro sobre o que conversávamos, os assuntos variavam, mas essa amiga minha me disse algo, no mínimo, inesperado:

-Você sabia que eu já gostei de você?

-Não sabia não...quando foi isso?

-Quando a gente tinha uns 15 anos.

-Ah...-respondi, surpreso, mas desinteressado, e já querendo encerrar a conversa, que não me agradava, mas ela continuou:

-Você sabia que eu ainda gosto de você?-isso sim era surpreendente!
Nesse momento, ela se levantou e correu para dentro da casa.

-Vocês me dão licença um pouquinho?-falei, já me levantando e correndo para dentro da casa também.

O barulho da música era demais, ainda não estava na hora da valsa. No corredor, um casal vinha em minha direção e entrei em um quarto para dar passagem a eles, que passaram e, quando eu saia do quarto, ouvi um choro abafado, bem baixinho.

Era ela que estava no quarto, embaixo de um cobertor azul, coberta dos pés à cabeça. Me sentei ao seu lado:

-1, 2, 3 você embaixo do cobertor. Agora tá com você...

Ela soltou uma risadinha tímida.

-Eu...meio que fiquei preocupado com você, não entendi bem o que te deu. Você tá legal?

Ela fez que “não” com a cabeça, o rosto coberto.

-Você tá chorando por quê? Tá triste?

Fez que sim com a cabeça.

-É comigo?

Não era. Nessa hora, a valsa começou a tocar.

-Já que você me pediu e eu prometi, vou ter que cumprir. Vem. Dança comigo.

Peguei sua mão e ela se levantou. Eu a abracei e começamos a dançar.

-Você quer falar sobre o que te deixou triste?-perguntei, e a resposta foi negativa. Continuamos dançando, juntos e em silêncio. Eu podia ouvir e sentir sua respiração, e eu me sentia o cara mais feliz do planeta. Quando a música acabou, eu disse:

-Acho que agora você prefere ficar sozinha, né?!? Olha, quando você quiser conversar sobre o que te deixou triste, ou falar sobre qualquer outra coisa, pode contar comigo, tá bom?

Quando estava saindo, ela pôs a mão no meu ombro, e ela era suave, leve, como seda.

-Espera, -ela disse- eu....te conto o que me deixou triste.

Sentamos no sofá, ela ainda embaixo do cobertor, mas agora com o rosto um pouco mais erguido, e pude ver que estava úmido e rosado pelo choro e pelas lágrimas.

-Eu fiquei triste pelo que a sua amiga disse...

-Ela falou alguma coisa que você não gostou?

Ela fez que “sim” com a cabeça, e o rosto baixou de novo.

-O que ela te disse? – eu perguntei.

-Ela falou que gosta de você.

-É, mas...como assim?

-É que – ela ergueu de novo o rosto, com o mais lindo sorriso que eu já havia visto – eu também gosto de você!

Senti meu coração bater na garganta e minhas mãos suarem.

-Você gosta de mim? – ela perguntou com a voz vacilante. Só pude responder que sim com a cabeça, as palavras não saiam, talvez pelo coração, que eu ainda sentia bater na garganta.

-Desde quando? – ela perguntou, sorrindo.

-Desde sempre! – respondi com os olhos marejados, vendo lágrimas nos olhos dela também.

Suas mãos, buscando segurança, encontraram as minhas, também trêmulas de emoção. Nossos olhos se fecharam ao mesmo tempo, e nossos lábios ficavam cada vez mais próximos. A valsa recomeçou a tocar, e recomeçamos a dançar enquanto nossos lábios se aproximavam...

E foi então que eu acordei, e decidi contar esse sonho a ela. Nesse dia, eu descobri que sonhar é bom, mas viver na pele é ainda melhor.



Uma Festa sem Cuba-Libre - Paulo Oliveira