segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Soneto da Existência.

Eu não me lembro exatamente quem foi que disse isso, pelo menos da primeira vez, mas a história realmente tende a se repetir, não?
E é verdade mesmo! Quantas vezes alguma situação que você já vivenciou, se repetiu?
Mesmo não sendo na mesma ocasião, com as mesmas pessoas, ou no mesmo lugar, o contexto era basicamente o mesmo, não?
Acho que a vida é sempre cheia disso: novidades, que na verdade, são sempre as mesmas coisas, mas com alguma coisinha nova, alguma coisinha melhor, alguma evolução, sendo mais fresca, mais bonita, mais inovadora.
O recheio da vida.
Foi então que resolvi publicar um sonetinho que fiz há algum tempinho.

É a história se repetindo...



Existe alguém

(Eu sei bem quem...)
Que vê além
Do meu sorriso

E desse alguém
(Que eu sei bem quem!)
Manter segredo
É um sacrifício.

Esconder o fogo, a brasa, a chama
Que arde nos olhos
De quem (te) ama

E, desse fogo, não tenha medo
Que eu te amo
Não é segredo...



Soneto da Existência - Paulo Oliveira

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Improviso e Olimpíadas.

Eu não tenho escrito nada praticamente, não? Só postado crônicas e etc, mas enfim...
Eu estava navegando na internet outro dia, e na internet, como o nome diz, tudo é interligado, e uma coisa leva a outra, que leva a outra, e sua pesquisa no Google sobre pianos acaba te levando à um conto sobre um jardim de gardênias.
Eu não lembro muito bem o que tinha pesquisado, mas apareceu pra mim essa foto:



Pensem comigo: essa menina (qualquer uma das duas) só pode ter ganho medalha de ouro!
(www.instantrimshot.com)
Mas pensem mais longe ainda: e se ela não ganhou o ouro, mas a prata e/ou o bronze?
O QUE ELA FARIA SE TIVESSE GANHO O OURO?
(www.instantrimshot.com)

É, realmente não foi uma piada das melhores, mas é o máximo que eu posso fazer por hoje... ainda tenho que fazer um programa que mostre a média de um aluno, com base em duas notas, mas (nem tudo são flores) SEM USAR MATEMÁTICA PARA ISSO!
É... fácil fácil...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Namorado e a Aranha.

Vou postar um poeminha aqui. Não lembro de ter postado algum poema aqui, aliás, não lembro quando foi a última vez que postei aqui.
Sei que posso muito bem olhar a data da minha última postagem, mas a preguiça me impede, e quero me censurar por estar sendo relapso.



Um namorado, à passeio em seu cavalo

Não notou que em sua cela
habitava uma pequena aranha
embaixo da tira da fivela

Enquanto ia estrada afora,
divagava sobre o amor, como fazia outrora,
antes de conhecer a garota
por quem se apaixonara.
Enquanto isso, a aranha
tranquila em seu ninho, fiava

"-Mas o que será que acontece?"
"Ela me ama ou não? O que será que trama?"
"Vamos cavalo, apeia!"
E a aranha, em seu ninho, ouvindo a prece
pensou consigo, em sua cama:
"-Teia"

"-E agora, o que será que ela faz?"
"São quase nove, o que ela faz antes da ceia?"
"Será que pensa em mim?"
E a aranha pensou consigo: "-Teia"

"-Ah diabos! que duvida que não me deixa!"
"Será que me ama, ou já ficou cheia?"
"O que será que ela quer?"
E a aranha pensou, novamente: "-Teia"

Nisso ele notou
a pequena aranha, já na borda de sua cela
fez uma pergunta, brincando com ela:
"Se sabes o que é o amor, diz-me, matreira!"
E ouviu da aranha, jurou
que uma voz fina lhe disse: "-Teia"



O Namorado e a Aranha - Paulo Oliveira

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Uma festa sem cuba-libre.

Hoje eu acordei e vi que fazia algum tempo que eu não postava, e quando peguei o ônibus e vim pra cá, vi uma moça muito bonita no ônibus. Muito bonita mesmo (nem preciso dizer que era ruiva, não?).
E me lembrei desse texto que escrevi há uns 4 ou 5 anos atrás.
Não era pra moça do ônibus, claro que não, era pra outra pessoa, que na época, eu enxergava com uma beleza ainda maior que a da primeira.



A festa estava animada, apesar de eu nem saber o motivo da comemoração. O melhor de tudo é que ela estava lá. É, ela, a garota por quem eu me apaixonei assim que a conheci, coisa de seis meses, um ano atrás. Ficamos amigos, eu gosto dela mais do que como um amigo, mas me faltou coragem pra me declarar.

Vários amigos meus estavam lá, possivelmente todos, e o que era ainda melhor (pelo menos pra mim) é que iam tocar valsa, a única música que eu sei dançar. É meio careta, mas é gostoso de se dançar com quem se gosta. Enquanto eu pensava nisso, ela se aproximou e me perguntou:

-Quando tocar a valsa, você dança comigo?-aquele pedido foi o mais doce som que eu já havia escutado, e devo ter ficado meio atordoado, porque ela me chamou pelo menos umas três vezes até eu conseguir gaguejar a resposta:

-Cla... Claro que sim!

-Tá bom então.

-Tá bom...

Eu continuei andando pela festa, encontrando e conversando com amigos, até que eu encontrei dois amigos e uma amiga que eu já não via há algum tempo, sentados em uma mesa, conversando com ela. Resolvi me juntar ao grupo, já que o papo parecia animado. Não me lembro sobre o que conversávamos, os assuntos variavam, mas essa amiga minha me disse algo, no mínimo, inesperado:

-Você sabia que eu já gostei de você?

-Não sabia não...quando foi isso?

-Quando a gente tinha uns 15 anos.

-Ah...-respondi, surpreso, mas desinteressado, e já querendo encerrar a conversa, que não me agradava, mas ela continuou:

-Você sabia que eu ainda gosto de você?-isso sim era surpreendente!
Nesse momento, ela se levantou e correu para dentro da casa.

-Vocês me dão licença um pouquinho?-falei, já me levantando e correndo para dentro da casa também.

O barulho da música era demais, ainda não estava na hora da valsa. No corredor, um casal vinha em minha direção e entrei em um quarto para dar passagem a eles, que passaram e, quando eu saia do quarto, ouvi um choro abafado, bem baixinho.

Era ela que estava no quarto, embaixo de um cobertor azul, coberta dos pés à cabeça. Me sentei ao seu lado:

-1, 2, 3 você embaixo do cobertor. Agora tá com você...

Ela soltou uma risadinha tímida.

-Eu...meio que fiquei preocupado com você, não entendi bem o que te deu. Você tá legal?

Ela fez que “não” com a cabeça, o rosto coberto.

-Você tá chorando por quê? Tá triste?

Fez que sim com a cabeça.

-É comigo?

Não era. Nessa hora, a valsa começou a tocar.

-Já que você me pediu e eu prometi, vou ter que cumprir. Vem. Dança comigo.

Peguei sua mão e ela se levantou. Eu a abracei e começamos a dançar.

-Você quer falar sobre o que te deixou triste?-perguntei, e a resposta foi negativa. Continuamos dançando, juntos e em silêncio. Eu podia ouvir e sentir sua respiração, e eu me sentia o cara mais feliz do planeta. Quando a música acabou, eu disse:

-Acho que agora você prefere ficar sozinha, né?!? Olha, quando você quiser conversar sobre o que te deixou triste, ou falar sobre qualquer outra coisa, pode contar comigo, tá bom?

Quando estava saindo, ela pôs a mão no meu ombro, e ela era suave, leve, como seda.

-Espera, -ela disse- eu....te conto o que me deixou triste.

Sentamos no sofá, ela ainda embaixo do cobertor, mas agora com o rosto um pouco mais erguido, e pude ver que estava úmido e rosado pelo choro e pelas lágrimas.

-Eu fiquei triste pelo que a sua amiga disse...

-Ela falou alguma coisa que você não gostou?

Ela fez que “sim” com a cabeça, e o rosto baixou de novo.

-O que ela te disse? – eu perguntei.

-Ela falou que gosta de você.

-É, mas...como assim?

-É que – ela ergueu de novo o rosto, com o mais lindo sorriso que eu já havia visto – eu também gosto de você!

Senti meu coração bater na garganta e minhas mãos suarem.

-Você gosta de mim? – ela perguntou com a voz vacilante. Só pude responder que sim com a cabeça, as palavras não saiam, talvez pelo coração, que eu ainda sentia bater na garganta.

-Desde quando? – ela perguntou, sorrindo.

-Desde sempre! – respondi com os olhos marejados, vendo lágrimas nos olhos dela também.

Suas mãos, buscando segurança, encontraram as minhas, também trêmulas de emoção. Nossos olhos se fecharam ao mesmo tempo, e nossos lábios ficavam cada vez mais próximos. A valsa recomeçou a tocar, e recomeçamos a dançar enquanto nossos lábios se aproximavam...

E foi então que eu acordei, e decidi contar esse sonho a ela. Nesse dia, eu descobri que sonhar é bom, mas viver na pele é ainda melhor.



Uma Festa sem Cuba-Libre - Paulo Oliveira

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

As Peripécias do Legendário Bulk Flatulento 2 - Pizzaria.

E mais uma história com nosso herói com problemas intestinais favoritos!
(Desculpem a ausência, explico o por que na próxima postagem.).

As Peripécias do Legendário Bulk Flatulento 2 - Pizzaria.

Parte I

Sexta-feira. Dia de farra. Resolvemos ir a uma pizzaria. Às 8:00 da noite saímos Bulk, Beto, Rodrigo, Júnior, Osmar e eu.
-Ô garçom, desce pizza aqui! – disse Bulk exasperado.
-Pois não senhor. Temos de mussarela, presunto, tomate seco e calabresa. Qual o senhor quer?
-Todos. Ah, a lingüiça... ela está inteira?
-Infelizmente não, senhor. – respondeu o garçom, espantado pelo enorme apetite e estranho gosto por lingüiças de meu amigo.
-Então pega uma inteira lá pra mim! – disse Bulk, lambendo maliciosamente os beiços.
Lá pelo 23° pedaço de pizza (e oitava ou nona calabresa), uma nuvem de gases letais, semelhante àquela do ponto de ônibus, foi expelida por Bulk de modo deveras sonoro. No instante em que notaram tal fato, o casal de filhos de uma feliz família, com uma expressão assustada no rosto, perguntaram em uníssono:
-O quê... o quê foi isso, pai? Pai? PAI!!!
O pai da família (de nome Ernesto, se não me engano) havia desmaiado, envenenado pelos vapores intestinais de meu amigo. Mais do que depressa, foi levado ao hospital.
-Pô Bulk, vê se pega leve com essa tua bunda gorda – reclamou Humberto.
-A culpa é de vocês! Se vocês não tivessem prendido a respiração e cheirado a parte de vocês, ele não tinha recebido uma sobrecarga. – retrucou Bulk.
-Teria. – disse.
-O quê?
-Ele não “tinha” recebido, ele “teria” recebido.
-Ahn... tanto faz. Vou cagar.
Após o flatulento incidente, duas outras famílias, além da envolvida, haviam se retirado da pizzaria, mas, ainda assim, o estabelecimento continuava bem cheio.
Ao chegar na porta do banheiro, ele encontrou um daqueles caras que ficam na porta dos banheiros, pra dar a chave.
-Ô chefe, dá a chave aí, por favor.
Furioso com nosso herói pelo papelão que fez, e notando também sua angústia e desespero crescentes, ele resolveu pregar-lhe uma peça que julgou ser inofensiva: deu a chave errada a ele.
Desesperado, tentando abrir a porta o mais rápido possível, inconscientemente Bulk relaxa o sfincter e outro flato escapa de seu imenso anus, digo, séculus. Consciente do mac que havia liberado, o rapaz deu a chave certa ao garoto, contudo, já era tarde demais: outras cinco famílias haviam ido embora, assustadas pelas paredes e vidraças que tremeram, trincaram e quebraram pela ribombante e gutural flatulência emitida por nosso amigo.
Já dentro do banheiro, Bulk sentiu-se em casa, e com rapidez quase sobre-humana, despiu-se das calças e da cueca, sentou-se no vaso e começou a obrar, com um urro assustador de alívio, que ecoou pelo estreito corredor que levava ao banheiro e inundou o salão:
-Ahhhhhhhhhhhhhhhh!


---

Parte II

O grotesco urro que inundou o salão terminou o serviço que a estrondosa flatulência havia iniciado: expulsar as pobres famílias que vieram atrás de um pouco de diversão e tranqüilidade. Todas as mesas estavam desertas, exceto por uma, ao fundo, ocupada por duas solitárias senhoras, sendo que uma delas era a simpática velhinha do referido ponto de ônibus de outro dia. Essa dizia para a outra senhora:
-Está vendo, Olga? Foi esse lazarento que peidou na minha cara outro dia!
-Isso é mesmo uma falta de respeito! – e se retiraram.
Só estávamos nós e os funcionários, e não sabíamos onde enfiar nossas caras. Então, Bulk gritou do banheiro, rompendo o silêncio:
-Caramba! Galera, tem merda aqui para afogar um jumento! Vou ter até que levantar pra cortar a lingüiça marrom.
Quinze longos minutos se passaram, e entre esses quinze minutos, muitos “splash”, ”tchibum”, ”arghhhh” e ”sai espírito das trevas” se ouviram do banheiro, e a cada onomatopéia proferida por nosso amigo, aumentavam os olhares ameaçadores dos funcionários do restaurante em nossa direção.
Quando saiu do banheiro, Bulk estava suado, e aparentava estar ligeiramente mais magro. Jogou a chave para o rapazinho que ficava na porta do banheiro:
-Pega aí, mestre.
O rapaz, ao pegar a chave, notou algo gosmento no chaveiro, e então percebeu que a chave estava recoberta de excremento multicolorido: verde, preto, marrom...
Enojado e desesperançado, o rapaz limpou a mão, pegou luvas, balde, vassoura e sabão para limpar a sujeira que meu amigo havia causado.
Simultaneamente, Bulk voltava à mesa:
-Ué, cadê o pessoal que tava aqui?
-Foram embora com medo de serem tragados pelo seu buraco negro. – explicou Rodrigo. Enquanto ríamos de Bulk, ele gritava ao garçom:
-Cadê a pizza garçom?

---

Parte III

Após uma pequena prece, o rapaz toma coragem e entra no banheiro, e quando vê o estrago causado por nosso herói, pudemos ouvir sua voz espantada, apavorada, enojada e desanimada dizer:
-Santo Deus! O que... o que é isso?
Não sabemos o que havia lá, nos faltava coragem para ir até lá e olhar; perguntamos então ao autor o que era, mas Bulk respondeu com indiferença, enquanto comia seu 31° pedaço de pizza:
-Ah, isso é frescura daquele maricas, a privada deve ter sujado um pouco, sei lá!
Pouquíssimo tempo passou-se, e o rapaz voltou do reservado com uma feição de extremo cansaço e um olhar avassalador de fúria incontida. Seu uniforme estava todo respingado de cocô! Quando passou por Bulk, lançou-lhe um olhar de gelar o sangue, e sibilou com toda a raiva contida em seu peito:
-Tú tá fudido, moleque!
Aquilo foi demais. Ao invés de passar direto, no máximo lançar um olhar de reprovação, dizer “Tú tá fudido, moleque!”, deve significar que realmente, Bulk cometera uma desonra e uma afronta sem tamanho aquele rapaz, e, como diria Faustão “Tanto no pessoal como no profissional”.
O mais impressionante foi que Bulk ouviu aquilo e apenas deu de ombros, como se dissesse: “tanto faz!”; e continuou comendo. Foi enquanto comentávamos o fato que ouvimos o rapaz dizer ao gerente:
-Me demito! Você faz idéia do que eu enfrentei lá dentro? Faz? Faz idéia do que aquele garoto foi capaz de fazer? Faz? – e em meio a lágrimas, completou: - Não agüento. Tô fora!
Passou-se pouco mais de três minutos quando o gerente veio ter conosco:
-Fora. Não precisa pagara nada, mas vão embora do meu restaurante, nesse momento. Minha freguesia já foi todinha embora, já notaram? Por favor, vão embora.
Com um rápido movimento, Bulk tirou do bolso uma sacola amarela de supermercado e falou seriamente:
-Quero as bordas.
-Que bordas, garoto?
-As bordas das pizzas que vocês tiram das mesas.
Rubro como uma pimenta, o gerente explode:
-FORAAAAAAAAA! – e desatou a chorar.
Fomos embora muito culpados: pela demissão do funcionário, pelo prejuízo que Bulk causou, tanto pelo banheiro como pelo êxodo dos clientes, por fazer o gerente chorar, enfim: por tudo. Íamos com isso em nossas cabeças, quando nosso pensamento coletivo foi cortado por Bulk, em meio às latas de lixo da pizzaria, gritando euforicamente:
-Olha pessoal, achei as bordas!



Paulo Oliveira - As Peripécias do Legendário Bulk Flatulento 2 - Pizzaria.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

As Peripécias do Legendário Bulk Flatulento.

Há algum tempo sem postar... vamos por uma pitada de humor nisso?
Essa é quase uma parábola bíblica, nos mostra a sabedoria dos idosos e o desrespeito da juventude criada em apartamento, à vitamina de leite com pêra e docinhos caramelados da vovózinha.


As Peripécias do Legendário Bulk Flatulento – A velhinha do ponto.


Bulk, Beto, Rodrigo, Osmar e eu esperávamos no ponto de ônibus da Avenida Ana Costa o circular 10. Ao nosso lado, uma pacata e veneranda anciã, já entrando, talvez, em sua nona década de vida. A velinha era calma e simpática, portava uma bela bengala de ébano e não media mais do que 1 metro e quarenta, devido à sua avançada idade. Enquanto eu observava aquele pequeno e frágil monumento da experiência e sabedoria dos idosos, o seguinte diálogo era travado entre meus amigos:

-Essa merda desse ônibus não chega. Quero chegar em casa logo pra poder cagar! – reclamava Bulk.

-Olha a senhora aí do teu lado, sua bicha! – disse Rodrigo.

-É, seu cagão, e se tu peidar aqui, a gente vai te bater! – completou Osmar. Beto limitava-se a rir. Foi nessa hora que aconteceu! Uma obscura reação química, sem precedentes históricos iniciou-se nas profundas trevas da região anal, digo, secular, de Bulk.

Gases tóxicos acumularam-se em uma densa nuvem, escura e pestilenta como uma praga bíblica. Notei a expressão de total desconforto e terror extremo no rosto de meu amigo:

-Tu tá legal, Bulk?!? – perguntei, embora já soubesse a resposta.

-Paulo, foi mal cara, mas não dá pra segurar não! – e levantando sua perna direita (a que estava do lado da velhinha) ele soltou um sonoro e malcheiroso “flato”. Então, do alto de sua sabedoria quase centenária, a senhora limitou-se a olhá-lo, erguendo seu rosto, antes simpático, agora com uma pétrea expressão de nojo e medo na direção de nosso herói com problemas intestinais, e proferir três palavras que comprovaram toda a sabedoria que eu achava que ela tivesse. Com sua voz trêmula, e seus olhos fixos nos de Bulk, ela disse:

-Filho da puta!

E se retirou do ponto o mais rápido possível, comprovando o quanto era esperta, bem mais do que todos nós juntos.



As Peripécias do Legendário Bulk Flatulento - Paulo Oliveira

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Almas Gêmeas.

Estranho... não sei por que, mas agora pensei em mímicos.
Sei lá, acho que talvez mímicos sejam mais felizes que palhaços. Não, isso não tem nada a ver com o texto, apenas "pensei alto".



Rogério e Marli estão no carro, com Marli ao volante. O sinal fecha e Rogério observa o ônibus que para ao seu lado e divaga:


-Não é irônico? Por exemplo, ali, naquele ônibus, as pessoas que estão nele. Um homem que está nele pode estar ao lado do seu grande amor e não notar porque está ocupado demais olhando pela janela, e ela pode não notar que o homem de sua vida está ao seu lado porque está distraída lendo o jornal! Aquela pessoa que cruzamos na rua e perguntamos as horas, aquelas que estão na nossa frente ou atrás de nós na fila do banco, do correio, da padaria, enfim... Essas pessoas podem ser nossas almas gêmeas, e simplesmente não notamos porque estamos ocupados com outras coisas e às vezes basta um gesto simples, como olhar pro lado pra notá-la, como você, como agora!!

É a primeira vez que te digo isso, mas gosto de você desde, sei lá... Desde sempre! Mas nunca te disse isso, e eu nem sei o porquê não te disse antes, acho que por medo, mas o medo acabou, e eu queria saber se você, se eu tenho chance com você, eu só não quero que isso interfir...

-Desculpa Rô, você falou alguma coisa? Eu tava retocando o batom e não prestei muita atenção...

-Não, não é nada importante não. Olha lá, o sinal abriu...



Almas Gêmeas - Paulo Oliveira

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Medo.

"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar."
(William Shakespeare)

Como dizer melhor que isso?

Medo... tá bom, medo. Mas medo de quê???

Medo de que aquele par de olhos, doces, lindos, não me olhem mais do mesmo jeito.

Medo de não ver mais nenhum sorriso daquela boca que eu sonho, e que rio quando ela ri, ou morde os lábios.

Medo de poder sentir, no máximo, saudades.

Medo de não poder mais conversar com ela, ouvir sua voz, sentir seu cafuné, seu abraço, não sentir o cheiro de seu perfume, ouvir suas piadinhas, suas respostas, seus pedidos, medo de não vê-la mais, de perde-la, medo que ela me diga “não”.

E se ela disser “não”...?

...e se ela disser “sim”...?



Medo - Paulo Oliveira

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Cuidado!!!

Só um conselho.
Não, não o estou vendendo, mas suponho que seja bom.

Se alguém quiser me dar algum dinheiro (ou conselho) também, não vou recusar... minha mãe me disse para sempre aceitar com um sorriso e um "obrigado" um presente.
Espero que alguém goste.

Cuidado!!! Muito cuidado, meu amigo, pra não viver uma não-vida.

Não basta sobreviver. Sobreviver significa “sub-viver”; quem sobrevive não vive.
É preciso viver sempre ao máximo, sempre viva o mais que você puder, faça o que quiser, sempre que puder fazê-lo, e aprecie o que você fizer. Faça sempre com prazer, tudo, desde as coisas mais simples, execute-as da melhor maneira, sempre, sempre com perfeição, como se fosse a primeira (ou a última) vez que você as fizesse.

Não olhe apenas: veja, observe, visualize cada detalhe que puder captar. Cada cor tem sua particularidade, o céu é de um azul único, pode comparar.

Não cheire: aprecie, aproveite, curta cada pequeno e suave perfume que puder sentir. Sinta até alguns "odores não tão agradáveis". O olor das rosas, o cheiro da chuva, do mar, ou do seu par.

Não ouça, também: escute, atente a cada som de cada parte pela qual passar, atente como são distintos, como cada um tem sua particularidade.
O canto dos pássaros, o som da voz do seu amor, a melodia das músicas.

Não toque: sinta, perceba as nuances de cada contorno, cada curva, cada relevo, seja alto ou baixo; sinta tudo que puder tocar, tudo o que estiver ao alcance de suas mãos, seus pés; sinta a terra molhada sob seus pés, a casca de sua árvore.

Não coma: prove, saboreie, deguste tudo que puder com seu paladar, seja o que for, mesmo que você não goste do sabor. Prove o amargor do jiló, o doce do mel, deguste o que puder provar. O que vale é a experiência.

Viva! Viva a vida intensamente, e ao máximo, sempre aproveitando cada oportunidade que a vida lhe der. Só assim, porque só assim, meus amigos, vocês poderão dizer com orgulho (e não como consolo!), que viveram, e que, se não fizeram tudo o que quiseram, fizeram tudo o que puderam.



Cuidado - Paulo Oliveira

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Relâmpagos.

Publico esse porque ontem choveu.
E também porque está cada vez mais difícil para mim ser imparcial.
Alguém entendeu?


Ontem choveu, e eu fiquei olhando os relâmpagos caírem, e ouvindo a chuva bater no vidro da janela, e comecei a pensar sobre o porquê de algumas pessoas terem medo de relâmpagos, e outras acharem bonito e gostarem de vê-los cair.

A nossa vida é muito parecida com o céu: às vezes é claro e alegre como o dia, e às vezes, escuro e introspectivo como a noite, e sempre se alternam esses momentos de alegria e introspecção, como o dia sucede a noite, e vice-versa. E de vez em quando, aparecem as tempestades, seja dia ou noite, e relâmpagos com elas, e eles mudam a forma como enxergamos o céu, assim como as mudanças mudam a forma como vemos nossa vida.

O relâmpago é sempre rápido e efêmero, e por mais brilho que ele jogue no céu, ele dura pouco e logo o céu volta a ser como era antes. É aí que reside a dúvida: porquê então, as pessoas temem o relâmpago?

Será que é porquê é súbito como as mudanças que atingem nossa vida?

Ou será que é por ser efêmero e passar logo, por mais bonito que seja?

Pode-se entender o medo do relâmpago como o medo da mudança, mas, se pararmos para pensar, não há por que temer, pois por mais apavorante que seja o relâmpago, logo o céu volta a ser como era antes. Depende de nós encararmos os relâmpagos como um espetáculo da vida ou como susto após susto, com medo e espanto. Cabe a você encarar as mudanças como algo apavorante, ou como algo belo e brilhante, e especial e diferente, como cada relâmpago é diferente do anterior.

Sempre que chove, eu deito olhando a janela e vejo os relâmpagos riscarem o céu, e ouço a chuva bater no vidro, e ontem não foi diferente: dormi como um anjo, como não dormia há muito tempo.


Relâmpagos - Paulo Oliveira

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Tempo para um amigo.

"Tempo" é aquela coisinha que a gente passa a vida inteira buscando mais, e tendo cada vez menos...

Na escola, vocês eram inseparáveis. Onde um estava, o outro estava também, isso era certeza. Sua alegria contagiava à todos, desde os amigos mais jovens (que achavam vocês o máximo) até os professores, mesmo aqueles que eram alvo das suas piadinhas e gozações.


Lembra que vocês tinham sempre planos, sobre serem soldados juntos, serem sócias em uma boutique, serem astronautas, professoras, médicos, pilotos de caça, cientistas?

Tantos objetivos e sonhos em comum, e todos eles sempre em dupla, e todos eles sempre conduzindo-os inexoravelmente, ao sucesso. Juntos, sempre.

Nossa! Você lembra?

Quantas aventuras, como aquele forte que vocês fizeram em cima da árvore, aquela tarde de sábado no shopping em que vocês conheceram aqueles dois gatinhos, ou aquela pescaria no feriadão em que vocês alugaram um barquinho furado, ou ainda aquele filme do Tom Cruise que vocês assistiram a estréia no cinema, juntas.

Vocês continuaram crescendo e descobrindo suas vocações. Chegou a época do vestibular e você presta pra Direito, ele você não sabe; você presta pra Medicina, ela você não sabe, não foi nem na mesma faculdade.

Quando vocês se encontram de novo, na escola, você pergunta para que ele prestou e ele diz que foi Engenharia; ela te conta que vai fazer Rádio e TV. E quando terminam as aulas é aquele choro, as despedidas dos outros amigos, e coisas como: “não me esquece!”, “eu te ligo” e “a gente se vê”. Ele te abraça e te diz: “vamos todo domingo jogar bola na praia, tá?”; você dá um abraço e um beijo nela e diz: “não esquece, hein: sábado que vem, shopping!”.

Você agora tem um emprego, ele trabalha e continua estudando; você trabalha, estuda e agora tem um namorado, ela casou e começou a trabalhar. Você se lembra com saudade dessa conversa e dessa época, claro que se lembra, só fazem um ou dois anos... Ou três... Ou seis, ou nove, ou... Nossa! Já fazem uns 15 anos! Você se lembra com muita saudade dele ou dela, e é claro que ele ou ela lembra-se de você também, mas fazer o quê?

A vida é muita corrida hoje em dia, e nenhum de vocês pode se dar ao luxo de dedicar (desperdiçar) tempo com um amigo, não é?



Tempo para um Amigo - Paulo Oliveira

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Na Praça.

Esperança é a última que morre. Quem discorda?


Se encontraram em uma praça qualquer, casualmente, pouco mais de um ano depois do fim do relacionamento.


-Oi. – cumprimenta ela, sentando-se.

-Oi.

Foi um cumprimento frio, seco, sem qualquer emoção, olhar nos olhos ou aperto de mão. Seguiram-se dois minutos de silêncio até outra palavra sair de uma das bocas:

- E aí? Tudo bem? – ele pergunta.

-Tudo. E você?

-Aham.

Mais silêncio.

-E aí? Você ainda ta com a...

-Não, não. E você e o .....?

-Não, também acabou.

Uma bela garota passa, ele presta bastante atenção em sua ‘passagem” .

- Mas você não tem jeito mesmo, né?!?-resmunga ela, indignada.

-O quê?!?

-Mesmo o destino juntando, você faz o favor de separar, né?!?

-Separar o quê?

-Você acha que eu não vi como você olhou para aquela garota?

-E o que é que tem? Eu não tenho mais nada com você...

-Mas e quando tinha?

-Peraí! Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...

-Ai, quer saber?!? Deixa pra lá, você não entende mesmo...-e ela se levanta e vai embora, desejando novamente que ele mude.

-Entender o que?? Que garota maluca!! – e ele se levanta e vai embora, desejando novamente que ela mude...



Na Praça - Paulo Oliveira.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Telefonema.

Juventude é sempre uma coisa linda e inspiradora, não?
Quando eu era jovem... deixa pra lá!

-Alô? – ela atende.

-Oi. E aí? Tudo bem?

-Tudo, e você?

-Ok. Tá fazendo alguma coisa? – ele pergunta.

-Não, só... vendo TV.

-Ah. E o que tá passando?

-Um filme aqui...

-Vamos sair?

-Pra onde?

-Ah, sei lá, vamos dançar, é que eu tô querendo um negócio...

-O quê?

-Te beijar.

-Ah, eu também...

-Então, se arruma que daqui a, hum, deixa eu ver... meia hora!

-Ahn...

-Daqui a meia hora eu to passando aí!

-Tá bom.

-Daí eu mato minhas saudades, a gente sai, fica junto um pouco... que tal?

-Hum, legal!

-Então até já!

-Tchau.

-Beijo...

-Ah, só uma coisa...

-Oi, fala!

-Quem é, mesmo...?


Telefonema - Paulo Oliveira.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Nomes Idiotas Para Quadros Idiotas.

Os "quadros" aos quais me refiro não são quadros de obras de arte, são quadros de programas mesmo. Por exemplo: há uns dois ou três finais de semana, enquanto mudava de canal, vi um quadro em que o GC dizia, na parte de baixo da tela:

"Construindo um sonho: Menina de 3 anos quer ganhar um cavalo."

A pergunta principal é: que diabos uma menina de 3 anos vai fazer com um cavalo? Nem com um pônei (que aliás, é o animal mais sem propósito que existe) ela conseguiria fazer alguma coisa! Imaginem se ela mora em um apartamento: a mamãe resmungando enquanto cata (com uma pá de coveiro) o "cocôzinho" que o cavalo fez no sofá da sala:

"-Eu tenho que ensinar esse pangaré a fazer cocô em cima do jornal!"


E por quê o nome do quadro é "Construindo um sonho"? Ele vai construir um cavalo pra menina?
Dar uma de Dr. Frankenstein, usar partes de alazões mortos deve sair um tanto quanto barato.
Deve ter sido lindo quando ele disse:

"-Fulaninha, aqui está seu cavalo!"

e entregou uma traquitana assim pra garota:



Daria tudo pra ter visto, mas a náusea me fez mudar de canal...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Vale a pena (por incrível que pareça!).

Hoje ainda não é quarta, nem é o sétimo dia para que eu descanse, então vou começar com o pé esquerdo mesmo, para vocês não terem qualquer surpresa amanhã...


Sabe aquelas quartas-feiras brabas, você desce do beliche com o pé esquerdo, sonado ainda, e leva um tombo; vai tomar um gole de café e está gelado e amargo; acende a luz do banheiro e ela queima, assim como o chuveiro, e o banho têm que ser gelado mesmo. Procura alguma coisa pra comer e só tem um pão mofado.

Sai para comprar pão e o pão acabou de acabar. Você fica 20 minutos na fila esperando o pão quente. Chega em casa, prepara seu pão e quando toma o café, ele está gelado (porquê você não esquentou antes de sair pra comprar pão?). Esquenta o café e, quando este fica quente, é o pão que está gelado. Vai assistir ao filme que você alugou ontem e, o filme (além de ser uma porcaria!) não chega ao final, pois o vídeo-cassete engole a fita. Dois gastos a mais: conserto do vídeo e multa da fita! Só para fechar a manhã, sua cachorra vomita em você e sua irmã chega toda nervosinha da escola (ah, os mistérios da adolescência!).
Você se corta preparando o almoço e morde a bochecha almoçando. Sua bicicleta está com o pneu furado (surpresa...) e você pega um ônibus, chegando ao lugar que tinha de ir com cinco minutos de atraso; mas isso não importa muito, pois você espera pelo seu amigo por duas horas, só para ele te entregar um CD, e mesmo depois dessas duas horas, ele não vem.
Você vai pra casa de outro amigo seu, para reclamar da vida, e o seu amigo (aquele que te deu o cano) está lá, jogando videogame. Sem nem perguntar, você começa a jogar, quem sabe relaxar um pouco... mas o jogo trava.
E, na primeira boa idéia do dia, você resolve ir para casa, cansado, morrendo de sono, vê seu ônibus passar, corre, faz sinal, mas mesmo assim, o motorista não pára. Enquanto você pragueja e escolhe entre cicuta, tiro na cabeça ou gilete nos pulsos, você olha para o ônibus que passa e a vê, quase um ano depois da ultima vez que a viu, acenando para você e gesticulando de dentro do ônibus, eufórica, sinais de “me liga!” e, mesmo cansado, você corre atrás do ônibus (igual um pateta, diga-se de passagem) até onde as pernas agüentam.
Você finalmente vai para casa e dorme estranhamente satisfeito, pois aquele curto minuto valeu a pena.



Vale a Pena - Paulo Oliveira.